Economia | ||||||
Noticia de: 10 de Janeiro de 2018 - 14:15 | ||||||
Se gasolina, gás e luz só sobem, como a inflação foi tão baixa? | ||||||
A inflação fechou 2017 em
2,95%, um número baixo por qualquer lado que se olhe: foi o menor IPCA desde
1998, além de ser menos da metade dos 6,29% registrados em 2016. Também foi a primeira vez
que a inflação ficou abaixo do piso da meta do governo desde que o regime de
metas foi criado em 1999. Mas a impressão de muita
gente não é essa diante de três itens importantes: gasolina, gás de cozinha e
energia elétrica. Todos, de fato, subiram muito mais do que no ano anterior. Mas eles não foram
suficientes para contrabalançar os efeitos de outro fenômeno: a primeira queda
anual do preço de alimentos e bebidas desde que o Plano Real começou em 1994. “Temos itens que
pressionaram para cima e é normal do consumidor focar nos elementos mais
visíveis. Mas especialmente alimentação em 2017 foi forte elemento de deflação,
e o o peso desse grupo no IPCA (25%) é bem maior do que o peso desses três
itens (10%)”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Veja o que aconteceu com
ele: Gasolina A Petrobras começou em 03
de julho uma nova política de reajustes. Ao invés de esperar um mês, a empresa
avalia todas as condições do mercado, incluindo cotações internacionais, o
câmbio e a concorrência, para se adaptar, o que pode acontecer diariamente. Daquela data até 28 de
dezembro, foram 115 reajustes nos preços da gasolina. Em julho, o governo
também aumentou aumentou a alíquota do PIS/COFINS dos combustíveis. O resultado foi que em
2016, a gasolina caiu 2,54% e puxou o IPCA para baixo em 0,10 ponto percentual. Em 2017, a gasolina subu
10,32% e puxou o IPCA para cima em 0,41 p.p, e as perspectivas para 2018 não
são de acomodação. “A gasolina depende muito
do câmbio e de como nosso cenário politico vai influenciar essa cotação: ele
deve colocar volatilidade, mas não a ponto de chegar em um novo patamar. Além
disso, temos um problema de déficit publico pra resolver. Outra questão é o
aquecimento da demanda previsto em outras economias, o que pressiona para cima
a cotação internacional”, diz André Braz, especialista em inflação do Ibre/FGV. Gás de cozinha Um fenômeno parecido
aconteceu com o gás de botijão, e pelo mesmo motivo: uma nova política de
reajustes da Petrobras. No início de junho, a
empresa empresa informou que os preços seriam formados pela média mensal das
cotações do butano e do propano no mercado europeu, convertida em reais pela
média diária das cotações de venda do dólar, acrescida de uma margem de 5%. O preço do botijão foi de
uma alta modesta de 2,10% em 2016 com impacto de 0,03 ponto percentual, ele
pulou para um aumento de 16% em 2017 com impacto de 0,19 p.p. De acordo com os dados da
ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), foi o maior
aumento no item desde 2002, quando ele subiu 34%. A Petrobras anunciou no
início de dezembro que vai rever a metodologia para não trazer ao país a
volatilidade do mercado europeu, mas não anunciou a nova fórmula. Não há perspectiva de
altas menores para conter a inflação, apenas de reajustes menos
frequentes. O preço do botijão ficou praticamente congelado durante
os governos Lula e Dilma: houve apenas um aumento, em 2015. Energia elétrica 2015 foi o ano de
reposição de congelamentos anteriores, 2016 foi o ano de reversão da crise
hídrica e 2017 foi um ano de novas altas. A energia elétrica passou
de uma queda de 10,66% e impacto negativo de 0,43 ponto percentual em 2016 para
uma alta de 10,35% em 2017 com impacto positivo de 0,35 ponto percentual. Houve cobrança de uma taxa
extra em todos os meses do ano com exceção de janeiro, fevereiro e junho. As chamadas bandeiras
tarifárias são acionadas quando é preciso ligar as usinas termelétricas, que
são mais caras, por causa da falta de chuvas. Andre acredita que a
perspectiva deste ano é positiva, ou Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) não teria definido a bandeira para verde (sem cobrança extra) neste
janeiro. 2018 A previsão de mercado é
que a inflação acelere em 2018 para o patamar de 4%, mais próximo do centro da
meta que é de 4,5%. “Existem muitas variáveis:
uma possível reforma da previdência, déficit fiscal, além de ser ano eleitoral,
com muitos feriados e Copa do Mundo. Mas a inflação deve continuar baixa porque
a recuperação é lenta e não está prevista uma reversão acelerada do
desemprego”, diz André. Sua previsão é que a
inflação de alimentos não siga tão benigna pois dificilmente a safra positiva
vai se repetir e também os custos mais altos de transporte devem fazer pressão. “Creio que o crescimento
de 3% que esperamos, especialmente no segundo semestre, também pode pressionar
mais a inflação. No limite, a resposta do BC será subir juros. Eu estou no
grupo que não consegue ver a Selic o ano todo em 6,75%, como deve chegar a taxa
na próxima reunião”, diz Sérgio. |
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